Regulamentando o Town-in
Resolvi
escrever essa matéria depois que li no site da ASJ a matéria
do Fernando Zucon. Gostaria de expressar minha opinião sobre
o assunto.
Apesar de não ser surfista, o tow-in
envolve jet ski, e ando de jet nas ondas há pelo
menos 10 anos, sem nunca ter colocado ninguém em risco,
pelo contrário já salvei bastante gente! Só para me apresentar,
organizo o campeonato mundial de jet nas ondas (Jet Waves)
que se realizará este ano aqui no Brasil em novembro e também
faço parte da Federação Catarinense de Jet Ski, na função
de Diretor Técnico. Estou envolvido com
o jet há vários anos e já vi as várias fases do jet ski.
Pessoas que compram por modismo, para passear e competir
são os atuais usuários, mas este perfil está ganhando novos
adeptos, os praticantes do Tow-in.
Concordo com o Fernando
e outros com quem tenho falado que deve-se regulamentar
o quanto antes, porque depois que houver um grave acidente,
além da coitada da vítima, coitado de todos os outros usuários
de jet que não tem nada a ver com isso, porque a manchete
do "Fantástico" do próximo dia será “Jet
ski assassino faz mais uma vítima”. Quem não sabe
que a mídia em geral adora um sensacionalismo e quem
acaba ficando mau visto é o jet ski, e não o causador
do acidente, que só quem conhece o cara vai lembrar, estando
ele surfando, passeando ....
Esse esporte ainda não é
regulamentado e o que temos que discutir é como
regulamentar ?
Afinal, de acordo com as leis, é proibido andar
nos 200 metros da praia. Não acho que deveríamos
ter a mesma lei dos EUA ou de Jaws, pois nosso país tem
características diferentes e nossas leis náuticas também
são diferentes das deles. Em minha opinião deveriam haver
2 tipos de situações para o uso do jet nas ondas,
seja para tow-in, para um treinamento ou somente para andar.
O primeiro deveria ser uma área destinada para essa
prática, claro que não é todo lugar que geograficamente
possibilita isso. Deve ser de preferência praias grandes
e desertas. Aqui em Santa Catarina já temos uma área específica
para essa prática em Laguna, estamos trabalhando
em outras. Como é feito?
A prefeitura local pode destinar uma área para essa
prática com uma simples autorização, que pode ser
para um final de semana ou para todo ano, é como uma autorização
para realizar um evento naquele local. Claro que é importantíssimo
para se definir esse local estar de acordo com as associações
de surf locais, bombeiros, e pescadores. Uma vez o local
autorizado, a Capitania dos Portos cita a “Norman
IV”, que é a lei que regulamenta eventos
na área dos 200 metros da praia, e lá diz que o local precisa
ser identificado com placas, bóias, e outras exigências
que são viáveis de serem cumpridas. Acho isso bom para todos,
para os que estão praticando, que poderão fazê-lo sem estar
fora da lei, dar cursos, etc, andar sem se preocupar com
banhistas e surfistas. Esses, por sua vez, é só não entrarem
no local sinalizado que não correm risco; para as autoridades
competentes que terão os praticantes concentrados num só
ponto, facilitando a fiscalização e minimizando o risco
de acidentes.
Agora é claro que nem todas
as praias apresentam condições para isolar um local somente
para tow-in, nesses casos acho que poderia ser implantado
um sistema de horários e tamanhos de onda.
Por exemplo, com ondas até 1 metro é proibido Com 1,5m é
permitido em tal local em um especifico horário, e assim
sucessivamente, com 3 metros é permitido em toda a praia..
Criar uma espécie de tabela de local e horários para praticar
com auxílio do jet. Já vi muita gente contra, mas em minha
opinião este esporte veio para ficar, é como skate, ou o
próprio surf e outros esportes, que no começo eram discriminados,
mas com o tempo se firmaram e se profissionalizaram, portanto
acho que se deve urgentemente regulamentar, mas não proibir
ou criticar.
Ainda há uma outra coisa
que tem que ser definida: quem regulamentará esse
esporte, a federação de surf, a de jet, ou uma
outra, talvez de jet waves ou tow-in a ser criada? Pelo
que escutei as opiniões são bem diversas.
Acho que esse esporte
irá crescer muito por vários aspectos. Economicamente
abre um novo mercado para os fabricantes de jet ski, o mercado
do surf, que é infinitamente maior. Assim as montadoras
poderão anunciar seus produtos em várias revistas e programas
que até então não se interessavam, e na contra-mão disso
investir na “industria do surf”.
Pelo lado esportivo, discordo
que o tow-in seja somente para quando não dá para “entrar
na remada”, no início era, mas agora está evoluindo,
se tornando uma outra modalidade. O perfil do “surf”
muda quando você entra na onda muito antes do ponto da remada
e com muito mais velocidade, isso possibilita novas
manobras, mais dinamismo, mais show!!! Portanto, considero
esse esporte como uma variação do surf, uma evolução da
modalidade. E não é só no tow-in que o jet pode auxiliar,
no resgate nem preciso comentar porque acho que a maioria
concorda que é atualmente o melhor veículo para isso, mas
também no auxilio ao treinamento de surfistas. Por exemplo,
num dia de mar grande onde vc pegaria 5 ondas em 3 horas,
se seu técnico utilizasse um jet, poderia te rebocar para
trás da arrebentação e vc poderia pegar 20 ondas no mesmo
período, ainda arriscando mais as manobras!
Quanto á poluição
seria uma mentira afirmar que jet ski não polui, mas o fato
é o quanto polui. Se comparado a outros veículos náuticos
como Lanchas e Barcos tipo``Batera´´ muito utilizados por
pescadores e movidos à óleo diesel, o jet ski polui muito
pouco. Dentre esses, sem dúvida os que mais poluem são os
barcos com motor à diesel, porque além da queima deste combustível
ter um aproveitamento menor que a gasolina, portanto, mais
quantidade é jogada pelo escape para fora sem ter sido queimada
e os escapes jogam o resíduo da queima diretamente na água
sem nenhum tipo de tratamento. Outro grande fator poluente
é o ``veneno´´, popularmente chamado, que é um produto químico
adicionado a tinta que é aplicada no fundo do casco de embarcações
que permanecem um longo período sem ser retirada da água.
Esse produto, altamente tóxico, serve para que os fungos
e moluscos não grudem no casco e não proliferem, mas, com
o tempo, vai se descolando do casco, poluindo e matando
a fauna e flora que entram em contato com o mesmo. Os motores
à diesel mais modernos já possuem bombas injetoras eletronicamente
controladas, que melhoram a queima de combustível e diminuem
o índice de poluição, mas mesmo assim dentro dos tipos de
motores, são os que mais poluem.
Em seguida vem as lanchas
com motor 2 tempos, motores esses que muito se assemelham
com os dos jets, mas com a diferença de terem uma média
de cilindrada mais alta, além de serem muito mais numerosos,
(os jets não são nem 10% do número de lanchas existentes
em nosso mercado hoje). Os jet skis tem em média 750cc,
o que equivale a um motor de popa de 60HP, ou seja de pequeno
a médio. Motores de popa grande chegam em média a 3.800cc,
e não são providos de um sistema de descarga como a dos
jet skis que possuem uma caixa na saída do escape chamada
de ``Water box´´, que serve para abafar o ruído do motor
e retém grande parte do óleo que seria jogado na água. Outro
fato que deve ser levado em conta é que por terem um regime
de rotação muito alto os fabricantes recomendam a utilização
de óleos sintéticos, e que na sua maioria os lubrificantes
100% sintéticos são biodegradáveis.
De acordo com o novo regulamento
americano de emissão de gases por veículos, esta legislação
não se aplica ao Brasil porque não temos uma legislação
eficaz. A partir de 1999 os fabricantes devem reduzir as
emissões de hidrocarbonetos não queimados (HC) e óxidos
de nitrogênio (NOX) anualmente até que eles fiquem 75% mais
limpos no ano de 2006. Os regulamentos de emissão
nos EUA e a demanda do consumidor por produtos mais seguros
ao meio ambiente estão compelindo os fabricantes de jet
ski a aperfeiçoar a estabilidade da combustão e as altas
emissões de combustível.
Cada fabricante
procura deter a emissão de poluentes de forma diferente,
dentre os mais populares, a Yamaha atualmente dotou seus
jets de catalisador, uma técnica semelhante a usada na indústria
automotiva, mas que não atinge ainda os 75% exigidos até
2006 e terão que fazer mais modificações até lá. Já a Sea
Doo desenvolveu um novo sistema de injeção de combustível
digital, que aplicada aos motores de 2 tempos irá modificar
o sistema de combustão para atender a legislação de emissão
sem perder as vantagens desse tipo de motor. Ela já atinge
a meta de 75% a menos de emissão e 30% a mais de economia
de combustível, equivalente aos motores de 4 tempos, considerados
hoje os menos poluentes, e que equiparão os novos jet skis
das fábricas japonesas Honda e Yamaha.
Podemos ver então que dos
veículos náuticos motorizados os jet skis são os
que menos poluem, além de serem impulsionados por
hidro-jato (turbina) e não hélice como a maioria dos barcos
e lanchas. Um estudo realizado pela Universidade do Rio
de Janeiro (URJ) há alguns anos atrás revelou que a turbina
do jet ski oxigena a água, e que se por um lado o jet polui
um pouco, por outro ajuda na despoluição renovando e acrescentando
oxigênio a água, funciona mais ou menos como aquele ar que
é introduzido no aquário, sem o qual os peixes e plantas
não sobrevivem. Este estudo foi encomendado a URJ em função
da polêmica criada a respeito da realização de uma competição
de jet ski na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro,
onde se concluiu que seria altamente benéfica a realização
da corrida para justamente oxigenar a água da Lagoa. Com
a modernização dos jets e a renovação da frota, levando-se
em conta a vida útil média de jet no Brasil que é de 10
anos, os índices de poluição ficarão muito mais baixos a
médio prazo.
Para concluir, em primeiro
lugar é preciso muito bom senso, em segundo
mais uma dose de “ótimo senso” para praticar
esse esporte, que é muito legal, mas também perigoso por
se tratar de pilotar um veículo em situações extremas e
próximos a pessoas, e como o esporte irá crescer e não existe
ninguém que ensine a pilotar jet nas ondas, sugiro que os
mais experientes orientem os iniciantes tanto no que se
refere a pilotagem quanto a segurança.
Encontro-me a disposição
para ajudar a regulamentar esse esporte,
assim como apoiar e orientar os praticantes no que se refere
ao jet ski.
Marcelo "Tchello"
Brandão
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